Líder isolado em exportações, café solúvel brasileiro luta para conquistar consumidores nacionais

Gazeta do Povo, por Sharon Abdalla – Não é apenas no grão que o café brasileiro se destaca mundo afora. Discreto, mas muito eficiente em resultados, o café solúvel com DNA nacional concentra a liderança global das exportações há nada menos do que cinco décadas – e os resultados tornam bastante possíveis a previsão de manter e expandir este quadro.

No primeiro semestre de 2019, o volume de café solúvel exportado registrou alta de 9,6% e somou 42,95 mil toneladas, 3,744 mil toneladas a mais do que no mesmo período do ano passado. No comparativo com o primeiro semestre de 2017, o resultado é ainda mais expressivo e acumula alta de 10,4%. Os principais destinos foram Estados Unidos, Rússia, Indonésia, Japão e Argentina. No total, são 105 os países que importam o café solúvel brasileiro. Veja mais informações sobre o mercado do café solúvel no infográfico abaixo.

“O primeiro ponto que destaca o nosso café solúvel é a tradição, o fato de estarmos há mais de 50 anos neste mercado. O segundo é a confiabilidade, a reputação que o país construiu no mercado global. E o terceiro é a competitividade. Somos o maior produtor de café do mundo e a disponibilidade de matéria-prima [nos coloca em uma posição privilegiada no quesito] preço”, pontua Fábio Sato, diretor comercial da Companhia Iguaçu de Café Solúvel.

Além de sustentar a permanência do país na liderança das exportações, estes fatores também deverão contribuir para melhorar ainda mais a performance do produto no segundo semestre de 2019. “Tínhamos a perspectiva de crescer 5% o volume de exportações em 2019, e já conseguimos [quase] 10%. Se mantivermos [esse ritmo], dobraremos a meta”, vislumbra Aguinaldo Lima, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira das Indústrias de Café Solúvel (Abics), responsável pela divulgação dos dados.

Para estimulá-los e fortalecer ainda mais as características referentes à qualidade, variedade e tecnologia do produto nacional, a Abics acaba de lançar, em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), uma marca setorial para o café solúvel brasileiro, a Crie&Curta (Explore&Enjoy, na versão em inglês).

Conquista do mercado externo não encontra ressonância em solo brasileiro

Mais do que reforçar a presença do café solúvel no mercado externo, o objetivo com a criação da marca setorial é promover a experiência do consumo do produto, destacando suas variedades e possibilidades de uso, que vão muito além do cafezinho, para atrair a atenção dos consumidores brasileiros.

Isso porque, ao contrário do protagonismo que conquistou lá fora, o consumo de café solúvel no país está muito aquém da sua potencialidade e representa apenas 5% do total da bebida. “No mundo, 28% do café é consumido em forma de solúvel, com um crescimento [médio] de 3% ao ano, superior aos cerca de 2%, 2,5% do café torrado e moído. No Brasil, o crescimento do solúvel não chega a 1% ao ano, enquanto o produto torrado e moído tem alta anual em torno de 2,3%”, aponta Lima.

O hábito de preparar a bebida a partir dos grãos torrados e moídos e o ritual quase romântico de coar o café estão entre os entraves culturais para a expansão interna do mercado de solúveis. O desconhecimento sobre a qualidade e versatilidade do produto é outro ponto destacado por Rachel Muller, diretora de cafés da Nestlé Brasil.

“A marca setorial contribuirá com este trabalho de explicar para as pessoas que o café solúvel é 100% café, que ele não passa por nenhum processo químico, apenas é ofertado de uma forma que emprega praticidade, e entrega uma xícara final com a mesma qualidade”, reforça a diretora. Além disso, ele também é ofertado em diferentes apresentações, intensidades e blends, que atendem diversos momentos e gostos dos consumidores, da mesma forma que ocorre com o torrado e moído.

O investimento das empresas no sentido de evidenciar tais características ao consumidor e ampliar o portifólio de solúveis também está entre as estratégias que deve colaborar com a ousada meta de dobrar o consumo da bebida nos próximos cinco anos, fazendo com que ela responda por 10% do total consumido no país. A Nestlé, maior fornecedora do mercado interno, por exemplo, está investindo R$ 300 milhões em cerca de 30 lançamentos dentro das marcas Starbucks e Nescafé para 2019.

A rota do café solúvel

Brasil mantém a liderança nas exportações há 50 anos. Confira os principais destinos e concorrentes do produto brasileiro pelo mundo.

Principais produtores
Em milhões de sacas (60kg)
Em 2017

Principais exportadores
Em milhares de sacas (60kg)
Em 2017

Consumo de café solúvel no Brasil
Em relação ao total

Exportações
– Quantidade
Em milhões de sacas (60kg)
No 1º semestre de cada ano

– Receita Cambial
Em US$ milhões

Principais compradores do café solúvel brasileiro
No ano de 2018

NO TOTAL
105 países de destino
3,72 milhões de sacas
599,8 milhões de dólares

Fonte: ABICS Infográfico: Chantal Wagner / GP.

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