Indústria de solúvel e produtores de conilon: os desafios são comuns

Por Aguinaldo Lima

A produção de conilon se viabilizou no Brasil pela garantia na fabricação de café solúvel e a indústria do setor cresceu por causa da produção da variedade. Uma atividade está totalmente relacionada à outra de forma visceral. É verdade que, com os anos, a indústria de torrefação passou a usar conilon, até mais que a indústria de solúvel, e a exportação de café verde também tem seus momentos consideráveis.

Entretanto, a exportação de café verde pode ser interrompida sem maiores problemas, a indústria de torrefação tem a opção de alterar seus blends com maior uso de arábica, mas a indústria de solúvel não tem essas prerrogativas. O uso de conilon na fabricação de café solúvel e extratos é obrigatório, faz parte de 85% da matéria prima consumida. Sua eficiência industrial, permitindo a extração superior em média de até 30% de sólidos solúveis, cafeína, faz do conilon produto imbatível quando comparado ao arábica.

A indústria de solúvel é a mais fiel consumidora dos cafés cultivados pelos produtores brasileiros. Portanto, se ela cresce, todos crescem; se ela perde mercado, todos perdem, inclusive o Brasil, porque, sendo o solúvel exportado para mais de 120 países, proporciona divisas anuais da ordem de US$ 600 milhões.

O Brasil tem mantido a liderança mundial de produção e exportação de café solúvel, enfrentando a concorrência forte e determinada de indústrias asiáticas. O Vietnã é quem puxa a fila dos países que mais cresceram na produção e exportação, seguido de Malásia, China, Coreia do Sul, Filipinas e Índia. Em muito aproveitando o excelente crescimento do consumo de café solúvel em 6% ao ano, em média para todo o continente asiático, enquanto no mundo cresce 3,2% ao ano, segundo a consultoria LMC.

O desempenho das exportações brasileiras de café solúvel e extratos, de janeiro a outubro de 2017, fechou 13% inferior no volume, equivalente a 2.803.495 sacas, ao passo que, no mesmo período de 2016, foram 3.204.822 sacas, ano em que o setor bateu recorde de embarques. A conta fecha com perdas de 400 mil sacas de café que o Brasil deixou de exportar.

Já a receita cambial foi superior em 6%, saindo de US$ 488,8 milhões para US$ 517,2 milhões, fruto de uma elevação considerável do preço do solúvel no mercado internacional, pressionado pelo custo da matéria prima conilon/robusta. Porém o maior faturamento não significou maiores lucros, pois as indústrias brasileiras que conviveram, de agosto de 2016 a abril de 2017, com preços do conilon nacional superiores aos do mercado mundial, levaram as margens de rentabilidade ao solo e, em alguns casos, tiveram que vender com prejuízo para não perder clientes tradicionais de longos anos.

O resultado do fechamento de outubro permite projetar esse mesmo índice de perda em volume da ordem de 13%, com 500 mil sacas deixando de ser transformadas em café solúvel e exportadas. O Brasil retornará, assim, aos mesmos volumes de 2010, quando foi embarcado o equivalente a 3.362.480 de sacas.

Essas perdas foram sequelas da escassez da oferta de conilon entre os meses de setembro a março de 2017, período em que também os preços bateram níveis nunca antes visto, descolando drasticamente das cotações internacionais, deixando brechas de oportunidades para países concorrentes. O Brasil perdeu boa parte de contratos de fornecimento para as indústrias asiáticas, que se abastecem de matéria prima de produtores de países da própria Ásia. Mais preocupante é que clientes perdidos nessas condições passam a impor perdas difíceis de serem revertidas, prejudicando tanto a indústria quanto os produtores brasileiros.

Embora a oferta de matéria prima tenha se equilibrado graças à safra atual de conilon – mesmo que abaixo da média histórica, ainda por consequência da seca no Espirito Santo – somada à menor pressão de demanda, devido ao menor uso do robusta nos blends das torrefadoras, e à baixa exportação, não se projeta cenários de recuperação dos mercados perdidos nas exportações de solúvel no curto prazo. Indústria e produtores do Brasil não podem perder essa queda de braço com seus concorrentes asiáticos, por isso é fundamental agir em conjunto e com estratégia, sob pena de ambos amargarem insucesso.

O desafio das Barreiras Tarifárias

Em outra frente, as indústrias de café solúvel se mobilizam cada vez mais em estratégias junto ao Governo Federal para priorizar negociações e acordos tarifários com países que aplicam altas barreiras para importar o produto nacional. Exportando para mais de 120 países, o setor sofre com tarifas de importação aplicadas ao solúvel tendo, em pelo menos 75% desses destinos, taxas que variam de 5% a 40%.

Apesar de negociações e acordos comerciais serem tarefas sempre demoradas, o setor recentemente priorizou 36 destinos, incluindo a União Europeia (UE), que aplicam tarifas acima de 5%, para estabelecer estratégias imediatas de ações em conjunto com os Ministérios da Agricultura (Mapa), da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), das Relações Exteriores (MRE) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

As maiores preocupações são com Japão, quarto maior destino do café solúvel nacional, que aplica tarifa de 8,8%, e Indonésia, sexto maior importador, que recentemente alterou sua tarifa de 5% para 20%. Frise-se que ambos são asiáticos e estabelecem uma série de acordos comerciais na Ásia, que favorecem nações concorrentes, em especial Vietnã e Malásia.

Na UE, concentram-se as maiores expectativas devido ao andamento das negociações entre Mercosul e o bloco, que sinalizam fechamento de acordo para meados de 2018. Se efetivado, o pacto proporcionará a desgravação gradativa ou imediata, dependendo das negociações, da cobrança de 9% do imposto de importação aplicado ao solúvel brasileiro.

A União Europeia, com destaque para Alemanha e Reino Unido, é o segundo maior importador de solúvel do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, o que valida o poder de competitividade da indústria nacional, mesmo sendo taxada em 9%. O grande risco são os acordos de comércio da UE com blocos e países, principalmente asiáticos, pelas quais a redução de tarifas que envolvam o café solúvel alijará, gradativamente, o Brasil do fornecimento aos europeus.

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