Por Márcio Candido Ferreira, presidente do CCCV
Com o fim do ano de 2020, o café capixaba, mais uma vez, mostra sua força: o Conilon bate o recorde histórico de exportação de 2015, superando em 733 mil sacas o recorde anterior (devido à valorização do dólar, aumento do consumo de café em casa em virtude na pandemia e maior competitividade em relação ao Robusta do Vietnam) e o solúvel melhora sua antiga marca em 24 mil sacas, alcançando o total de 382 mil sacas exportadas. No caso específico do solúvel, além de todos esses aspectos, também contribuiu a tradição da indústria capixaba e a sua credibilidade junto aos clientes no exterior.
O desempenho do conilon é muito significativo para a cafeicultura capixaba uma vez que, atualmente, essa variedade está percentualmente mais lucrativa do que o arábica, devido ao seu menor custo de produção. O resultado do solúvel, também é bastante representativo, visto que, esse produto industrializado possui maior valor agregado, sendo também mais lucrativo do que a exportação de café em grão.
As exportações totais do ano de 2020 foram de 6,4 milhões de sacas e representam o terceiro melhor volume da história das exportações de café pelo Espírito Santo, atrás apenas das marcas dos anos de 2002 (8,3 milhões) e 2015 (6,5 milhões). Em comparação com 2019 o crescimento foi de 11% em relação ao ano passado. A exportação de conilon, especificamente, teve um crescimento de 22% em relação a 2019, com um total de 4,8 milhões sacas exportadas. A exportação de solúvel, por sua vez, cresceu 12% em relação ao ano passado, somando 382 mil sacas exportadas. Em contrapartida, as exportações de arábica totalizaram 1,2 milhões de sacas, caindo 19% comparativamente a 2019, mesmo em um ano de bienalidade positiva, também em virtude da falta de chuvas.
O preço médio em dólar de uma saca exportada de café conilon em 2020 foi o menor dos últimos 15 anos e o preço do solúvel, o menor dos últimos 13 anos, uma vez que o dólar está muito valorizado frente ao real. Com isso, o preço equivalente em Reais tornou-se mais alto, o que valorizou ainda mais o resultado das exportações capixabas.
A receita cambial exportada de café conilon cresceu 14% em relação a 2019 (saltando de 327 para 372 milhões de dólares) enquanto a do solúvel subiu 5% em comparação com o ano passado (aumentando de 43 para 45 milhões de dólares). O arábica, por sua vez, registrou uma queda de 21% em relação a 2019 (caindo de 165 para 130 milhões de dólares). No total, a receita cambial acumulada em 2020 teve leve alta em relação ao ano passado, alcançando 547 milhões de dólares.
No geral, o ano de 2020 foi positivo para o produtor brasileiro, mesmo em meio à volatilidade e turbulência. O café arábica sustentou uma performance média positiva, começando um movimento de recuperação. No início do ano, a escassez da oferta de arábicas suaves provenientes da Colômbia e América Central, o atraso das floradas e o potencial de quebra da safra brasileira para 2021 criaram bolhas de alta nos preços dessa variedade, gerando um ambiente de volatilidade positiva.
Vale destacar também que a flutuação cambial do dólar foi fundamental para a performance dos preços de café ao longo do ano, uma vez que, além de garantir remuneração para o produtor, a alta da moeda americana melhorou a competitividade das exportações de café. Por fim, ressalta-se o desempenho do arábica cereja fino (que em 2020 chegou a ser negociado acima de R$ 700,00 devido à carência de suaves no mundo) e o forte fluxo externo do conilon, que atraiu compradores externos em virtude da valorização do dólar frente ao real.