Embrapa lança documentário sobre a produção de café Robusta fino em terroir Amazônico

Produtor Nilton Lima, de Alto Alegre dos Parecis - Foto: Marcos Oliveira

Por Renata Silva, da Embrapa Rondônia

O documentário “Robustas Amazônicos – Aroma, sabor e histórias que vêm das Matas de Rondônia”, retrata a realidade de uma cafeicultura única, emblemática e sustentável. São quase 50 minutos de uma imersão neste terroir amazônico, conduzida por meio das histórias de vida e de valores culturais e agronômicos desta região. Apresenta o perfil de produção de um café com qualidade que preserva a tradição dos pioneiros, a cultura do indígena e que mantém vivo o sonho de homens, mulheres e jovens no campo. 

Estes cafés não refletem apenas a sua genética única, que se adaptou em terras amazônicas. São grãos especiais que agregam riqueza, tecnologia e preservação. Têm, em seus aromas e sabores, a complexidade e a mistura de sua gente. O documentário completo está disponível no canal da Embrapa no Youtube.

Todo o enredo se desenvolve na região que possui mais de 60% das áreas com lavouras de café em Rondônia, responsável por 83% dos mais de 2 milhões de sacas produzidas anualmente no estado. Trata-se da região Matas de Rondônia, o terroir dos Robustas Amazônicos, que está em processo final de reconhecimento da sua Indicação Geográfica – IG. Esta será a primeira IG de cafés canéforas (robusta e conilon) sustentáveis do mundo, com a chancela da Global Coffee Plataform – GCP.

Rondônia é o quinto maior produtor de café do país, segundo da espécie canéfora e responsável por 97% de todo o grão produzido na Amazônia. Nos últimos anos, as lavouras do estado vêm passando por uma contínua evolução tecnológica, tornando-se mais produtiva, sustentável e com aprimoramento da qualidade dos grãos. Em quase duas décadas, a produtividade evoluiu de 8 para 38 sacas por hectare e a qualidade de bebida dos Robustas Amazônicos e suas características sensoriais vêm conquistando concursos e novos consumidores. 

A cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas geradoras de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS para o Estado de Rondônia. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cultura é conduzida por cerca de 17 mil empreendimentos rurais. São módulos produtivos com média de quatro hectares plantados com a cultura. A base de toda a mão de obra é familiar e o processo de colheita é manual.  A exceção fica para um pequeno grupo de produtores que possui equipamentos para a colheita semimecanizada.
 

Identidade do café que promove transformação social na Amazônia
Trabalhos realizados pela Embrapa e parceiros já demonstraram que o Estado de Rondônia, devido às suas características de clima, solo e seleção genética, é produtor de cafés robustas ou “arrobustados” – cruzamentos de cafés da espécie canéfora, das variedades botânicas robusta e conilon. Nestes híbridos naturais, predominam as características agronômicas e sensoriais da variedade botânica robusta. 

Como o estado é o principal responsável pelo café produzido na Amazônia, não demorou muito para que a alcunha de ‘Robusta’ e ‘Amazônia’ fizesse parte do mesmo nome e passassem a representar o grão produzido em Rondônia e em toda a região Amazônica. 

Mais que um nome tecnicamente apropriado, esta identidade carrega informações e agrega valores. É o reconhecimento de um café que tem características únicas em uma região que não tem igual no mundo. “A Embrapa foi audaciosa ao propor para o setor cafeeiro nacional uma nova identidade para os cafés amazônicos. A aceitação do mercado e os resultados obtidos até o momento demonstram que esta foi uma atitude acertada”, comenta o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves.

Além da genética única de seus cafezais, que foram selecionados em solos Amazônicos, ao longo de quatro décadas, representa a mistura de um povo que veio em busca de vidas melhores no Eldorado Amazônico. Hoje, estes cafeicultores, descendentes de mineiros, capixabas e paranaenses, se juntaram aos indígenas para produzir grãos finos e com características sensoriais muito especiais. Tem os aromas e sabores das florestas com castanhas, chocolates e frutas exóticas. 

O documentário retrata a história de lutas e conquistas destes pioneiros, sua relação com a terra, a natureza e o café. Conta a saga dos que se apropriaram do conhecimento e da tecnologia, multiplicaram e estão ajudando a promover a evolução da cafeicultura do campo à xícara e a transformação de todo um setor. 

Para o pesquisador Enrique Alves, o conhecimento tecnológico desenvolvido na área da pesquisa só faz sentido se for apropriado no campo, servindo de ferramenta para transformações positivas de cenários, geração de renda, melhoria da qualidade de vida e inclusão social. “Acredito no poder de transformação que o uso de tecnologias de produção sustentável pode ter na realidade da agricultura familiar e de comunidades tradicionais amazônicas”, afirma Alves.

O reconhecimento que a cafeicultura do estado tem conquistado nos últimos anos é reflexo da união de esforços entre produtores, instituições de pesquisa, extensão rural e órgãos governamentais.

Adoção de tecnologias e agregação de valor
Com o uso de tecnologias há uma nova gama de possibilidades na produção de cafés canéforas com qualidade. O trabalho da Embrapa Rondônia tem sido o de motivar e subsidiar as boas práticas no campo. Na pós-colheita, os maiores avanços estão na busca do ponto ideal de colheita, na validação de equipamentos para a colheita semimecanizada e nos processos de secagem lenta e cuidadosa dos frutos para atingir a qualidade desejada.

Com a evolução dos materiais genéticos e lançamento de clones individuais, os pesquisadores recomendam que, apesar de serem plantados em linhas sucessivas – seis ou mais clones – no momento dos tratos culturais, adubação, poda e, principalmente, durante a colheita e pós-colheita, cada clone receba uma atenção individual (planta) e coletiva (lavoura). A pesquisa tem demonstrado que, cada clone tem características genéticas distintas e isso reflete em seu ciclo de maturação, conferindo características sensoriais próprias.

Diversos tipos de secadores solares também foram validados e recomendados para a melhoria da qualidade dos frutos em temperatura ideal (35 °C a 45°C) e de forma sustentável. Estes métodos são adequados para a produção de microlotes ou em pequenas áreas, como acontece em Rondônia. Técnicas mais elaboradas de processamento dos frutos são constantemente desenvolvidas e validadas nos campos experimentais da Embrapa ou áreas de produtores.

Os processos de fermentações controladas, ou positivas, também validados pela Embrapa, estão sendo cada vez mais adotados pelos cafeicultores. Resultado disso são os cafés premiados em concursos e que já fazem parte de um processo de transformação do perfil sensorial dos Robustas Amazônicos, deixando-os ainda mais exóticos e diferenciados. “O efeito da ação dos microrganismos nos frutos e grãos evidenciam e tornam mais intensas características de acidez e doçura, deixando a bebida bastante equilibrada e interessante aos mais exigentes paladares”, explica Enrique Alves. 

Os donos da história: qualidade, inclusão e reconhecimento
O documentário é apresentado por seis famílias de cafeicultores que representam a diversidade e as riquezas culturais na produção dos Robustas Amazônicos especiais na Região Matas de Rondônia. Estas famílias resgatam a sua história e carregam o legado dos pioneiros visionários que vieram para a Amazônia em busca de um sonho. A origem de uma cafeicultura que resultou da mistura do conilon capixaba com os robustas levados para Rondônia, pela Embrapa em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas – IAC. 

São produtores parceiros da Embrapa Rondônia que empregam tecnologias geradas, validadas e preconizadas por meio da pesquisa científica.  “Ainda há muito que fazer, mas já é possível ver que a Amazônia está no rumo certo, com uma cafeicultura cada vez mais preocupada em se fazer sustentável, inclusiva, eficiente e com qualidade”, conclui o pesquisador.

Indicação Geográfica: origem, história e o saber fazer

A IG serve para distinguir um produto ou serviço que apresenta características diferenciadas e que podem ser atribuídas à sua origem geográfica, configurando o reflexo do ambiente. Isto quer dizer que, além das condições naturais, os fatores humanos e culturais importam. O reconhecimento formal da IG no País e responsabilidade Geográfica cabe ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – INPI, autarquia do Governo Federal. No campo, a Indicação Geográfica dos Robustas Amazônicos pode fortalecer e valorizar o que os produtores já vêm realizando há alguns anos. Premiados pela qualidade e sustentabilidade dos cafés que produzem, eles já usam o diferencial e a denominação de Robustas Amazônicos para agregarem mais valor ao seu produto e, consequentemente, mais renda. Um dos resultados imediatos no processo de IG é a identificação, o reconhecimento e a divulgação de atributos do café da região à sociedade e à indústria. A aproximação da indústria com a cadeia produtiva e sua organização traz inúmeros benefícios, como a percepção da qualidade e valor do café. Isso pode gerar novos produtos que estarão disponíveis aos consumidores. O processo de Indicação Geográfica acontece em um momento muito apropriado, em que os consumidores querem saber de onde vêm os produtos que eles consomem, de que maneira está sendo produzido, se é sustentável e se agrega valor para a comunidade.

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