Setor tem perda de competitividade pela combinação de problemas logísticos e elevação dos preços do café
Após 2019 e 2020 com números extraordinários, quando o Brasil superou o patamar de 4 milhões de sacas de 60 kg e bateu recordes em volume na exportação de café solúvel, as indústrias do setor, filiadas à Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), acendem o sinal de alerta diante de um novo panorama de mercado, no qual a união de diversos fatores – clima, logística, elevação de custos e câmbio, entre outros – contribuem para a perda da competitividade brasileira.
O Brasil nunca exportou tanto café, incluindo solúvel, como em 2020, ano de pandemia mundial. Com o equivalente superior a 4 milhões de sacas do produto industrializado remetidas a mais de 100 países, a receita cambial obtida foi de aproximadamente US$ 600 milhões. “Muito competitivo, com câmbio favorável e consumo em alta, projetávamos estimativas otimistas para 2021, que iriam desde a manutenção do volume exportado a até um crescimento de 3%, mas o cenário mudou”, revela Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Abics.
Após um primeiro quadrimestre com exportações crescentes, o desempenho começou a declinar a partir de maio em relação ao mesmo período de 2020. “Com essa mudança de tendência, o setor de solúvel reviu seus números para uma possível queda considerável no volume embarcado em 2021 frente a 2020, interrompendo três anos de evolução contínua”, aponta.
Segundo o diretor da Abics, o setor, que projetava a possibilidade de até 3% de crescimento, atualmente já observa uma queda de 7,4% no volume das exportações realizadas de janeiro a julho frente ao mesmo intervalo de 2020.
“Esse recuo se deu em função principalmente da elevação dos preços do café no mercado interno e problemas logísticos de escassez de contêineres e navios se tornando rotineiros, com picos de agravamento pontuais e que perduram até hoje, o que gerou dificuldades e elevação nos custos para todo setor exportador brasileiro”, explica.
Ele completa que há cenários apontados por especialistas de até um provável caos logístico, com falta de navios que deverá se estender até 2022, o qual já afeta, inclusive, as exportações de café em grãos.
Lima anota que, aliado a isso, também ocorreram os problemas climáticos que afetaram a produção brasileira de café. “Primeiramente, a seca e as altas temperaturas e, mais recentemente, o frio e as geadas formam um quadro de incertezas quanto à próxima safra e geraram uma disparada nos preços internos e internacionais do café, o que dificulta a comercialização e causa arrefecimento da demanda em determinados mercados”, analisa.
O diretor da Abics recorda que, com o encerramento da colheita brasileira de café ocorrendo normalmente no segundo semestre de cada ano, as indústrias nacionais de café solúvel iniciam o período de comercialização mais intensa com os clientes mundiais, visando o ano seguinte.
“Geralmente a comercialização de café solúvel é realizada com antecedências que variam de quatro a 18 meses, o que determina que as indústrias precisam, para não correr riscos, travar seus preços, em boa parte, com a aquisição física de matéria-prima. E é a partir da leitura mais lenta e desaquecida dessas comercializações que passamos a rever nossas projeções, inclusive para 2022, acendendo o sinal de alerta para o setor”, conclui.
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