Solúvel: o café que o Brasil exporta bem

Entre os cafés industrializados produzidos no Brasil, o solúvel é o mais exportado, respondendo por 98% dos embarques no ano passado, segundo o Cecafé. De acordo com lideranças do setor, somado a isso, há ainda boas perspectivas de crescimento.

Rebecca VettorePor Rebecca Vettore – 31/07/2024 – 6 mins de leitura

Conteúdo original ANBA

São Paulo – Há muito anos, o Brasil aparece na liderança mundial como produtor e exportador de café. Dividido em duas categorias, o café pode ser chamado de verde – aquele colhido que não passa pelo processo de torra – e de industrializado. Apesar do verde ter maior participação na produção e exportação brasileiras, o industrializado – com duas variações, o torrado e moído ou solúvel – tem ganhado destaque.

Em 2022, o Brasil exportou quase 3,8 milhões de sacas de 60 quilos de café industrializado. No ano seguinte, o volume se manteve alto com a exportação de 3,7 milhões de sacas da mesma categoria, com destaque para o café solúvel, que representou 98% desse total, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

“O Brasil é o maior país exportador mundial de café solúvel e com as duas novas indústrias de solubilização instaladas no País, as expectativas de crescimento são muito positivas. Em média, o País tem exportado 4 milhões de sacas de solúvel ao ano nos últimos anos”, explica o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron (foto à direita).

Inicialmente o café solúvel brasileiro era exportado apenas com marcas, entre elas a famosa Pelé. Porém, ao longo do tempo, o País foi se especializando em fornecer matéria-prima para as marcas locais – ou seja, de outros países – venderem.

“A partir do momento em que você tem indústrias no local, onde elas mesmas fazem as embalagens e a distribuição, fica mais viável para o Brasil vender sem marca. Essa transição aconteceu entre os anos de 1990 e 2000”, diz o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima (foto abaixo à esquerda).

“Quase não exportamos mais café solúvel com marca aqui do Brasil. Eu diria que o café com marca corresponde a quase 5% do total de café solúvel que exportamos.”

Na lista dos países que importam café solúvel do Brasil existem cerca de 120. Com 16 países árabes no ranking de compradores, esse mercado se destaca como um dos parceiros comerciais mais antigos do País. Fiéis compradoras desde a década de 1960, juntas, por ano, essas nações compram 60 mil sacas de café.

“O Brasil tem muita importância nesse mercado de café solúvel com compradores tradicionais como Árabia Saudita e o Líbano. Os Emirados Árabes Unidos também estão se tornando um dos principais compradores, porque aquela região é hub de distribuição para outros países”, explica Aguinaldo.

Hoje do total de café solúvel produzido no Brasil, 80% é exportado e 20% atende o mercado interno. Segundo o Cecafé, o País consome cerca de 1 milhão de sacas de café solúvel por ano.

“No Brasil o volume de consumo de café solúvel ainda é baixo, cerca de 6% do total, mas desde 2016 esse número vem crescendo bastante. Isso mostra que o consumidor está redescobrindo o café solúvel. Como aparecemos como um dos principais consumidores de café no mundo, temos uma grande oportunidade de ampliar o consumo de café solúvel por aqui”, contou o diretor de Relações Institucionais da Abics.

Milhões de sacas ao exterior

Com dados positivos praticamente todos os anos, o Brasil bateu um novo recorde histórico de exportação de café em geral na safra 2023/24, de acordo com o Cecafé. Com 47,3 milhões de sacas, o volume cresceu 33% na comparação da safra 2022/23 e 4% sobre o recorde anterior, de 2020/21.

O Brasil, que apresenta um solo e clima ideais para o desenvolvimento do café, exporta um pouco mais de 60% do total produzido. No ranking dos principais compradores, os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar, seguidos de Alemanha, Bélgica, Itália e Japão. A China ocupa o sétimo lugar com a maior evolução na compra do produto brasileiro da safra 2023/24.

O produto nacional se destaca por suas diversas qualidades e origens – sendo produzido em 36 regiões do País – e sua sustentabilidade, de acordo com Eduardo. “Essas diversas características presentes em nossos cafés permitem ao País atender aos mais diversos e exigentes mercados globais, sendo o maior fornecedor nos principais países consumidores e compondo muitos blends ao redor do mundo.”

Café verde, o principal

O café verde, principal tipo de café produzido e exportado do Brasil, tem se mantido no mesmo nível de exportação nos últimos dois anos, com 35,6 milhões de sacas em 2022 e 35,5 milhões de sacas em 2023.

Assim como o café industrializado, o café verde também tem divisões, separado por duas variedades, a robusta e a arábica. Para que ele se desenvolva bem e cresça, precisa ter condições climáticas favoráveis.

O café da espécie robusta, que se tornou muito popular pela variedade conilon, de acordo com Juliana Rezende Mello, cafeicultura e fundadora da MonCerrado Cafés, tem um local ideal para ser produzido: nas regiões mais próximas ao mar, com altitudes mais baixas como o Amazonas.

Já a espécie arábica precisa de altitudes mais elevadas para se desenvolver, por isso se dá bem no solo de Minas Gerais. “Para crescer o café precisa de bom microbioma, com mais frio e chuva. Ele começa a se desenvolver no mês de maio e é colhido entre os meses de setembro e novembro”, completou Juliana.

Café da MonCerrado na xícara

A marca MonCerrado é uma das muitas que vendem café verde e café em grãos torrados no Brasil, produzindo seus grãos na Fazenda Santa Bárbara, em Monte Carmelo, Minas Gerais, desde 2015.

“Sou formada em Farmácia e para mim foi um grande desafio aprender sobre o café, suas especificidades, o tempo de plantio, quais deveriam ser os cuidados atendidos com o produto até ele chegar na xícara. Com o tempo, consegui entregar produtos com os mesmos sabores e com a mesma qualidade”, conta Juliana.

A fundadora da marca investiu em alternativas para aumentar a produtividade de seus cafés de uma forma sustentável. Primeiro, ela escolhe uma variedade geneticamente modificada, que é plantada, depois as plantas crescem e as sementes são colhidas.

Após esse processo, os grãos passam por um processo de secagem específica para que aumentem a qualidade da bebida e na sequência são torrados e embalados para a comercialização.

Além do mercado interno, com venda do café torrado para os estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Tocantins e Goiás, a empresa exportou seu café verde para Europa e tem interesse em exportar para os países árabes.

“A maioria das negociações que já fiz de exportação contei com a ajuda de uma cooperativa local. Queremos exportar para mais países, entre eles os árabes, mas ainda estamos investindo em conseguir mais certificados internacionais. Como não conheço o mercado árabe, precisaria de ajuda para entender a necessidade desses consumidores”, completou Juliana.

Com reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA

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